Quem Somos?
O Laboratório de Malacologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) surgiu inicialmente como uma coleção malacológica, coletando e armazenando exemplares de moluscos como patrimônio biológico brasileiro em nome da universidade. A coleção, desde então, funciona como um banco de informação disponível mundialmente, além de recebermos doações de material de outros professores ou instituições, contemplando um acervo valioso para a ciência. De uns anos para cá, a coleção passou a receber graduandos da UFES e até de outros centros universitário de biologia, se tornando um laboratório propriamente dito. A partir daí temos nos dedicado à produção científica, contribuindo para a formação prática dos alunos, participando de projetos de pesquisa que envolvem a fauna capixaba, além de manter a coleção organizada e acessível principalmente à qualquer cidadão capixaba.
Pesquisas que desenvolvemos
Inicialmente o nosso carro chefe era investigar e monitorar os índices de imposex na baía de Vitória - ES, utilizando duas espécies como indicadores biológicos: Leucozonia nassa e Stramonita haemastoma. O estudo do imposex e a abordagem ecolotoxicológica são especialidade da nossa curadora, Dra. Mércia Barcellos da Costa, embora tenhamos aberto nosso campo de pesquisa em um leque amplo nos últimos anos, abrangendo áreas como histologia e genética.
Monitoramento de Imposex no litoral Capixaba
Imposex ou impossex é uma síndrome morfofisiológica sexual que ocorre em moluscos e é caracterizada pelo surgimento de características masculinas em fêmeas, tais como canal deferente e pênis, expostas à compostos orgânicos de estanho. Um bom exemplo desses compostos é o tributilestanho, conhecido como TBT e amplamente utilizado em tintas antiencrustrantes, embora tenham sido proibidas pela legislação por volta de 2007. Essa alteração morfológica pode alterar a conformação das populações locais, uma vez que pode tornar inviável a copula para as fêmeas afetadas.
O Laboratório de Malacologia monitora os índices de imposex dentro do litoral capixaba desde o inicio dos anos 2000, com coletas anuais de verão. Os resultados são animadores, existe um padrão que mostra o decaimento de ocorrências da síndrome, mas ainda existem locais em que ela aparece.
Análise histológica e de ciclo reprodutivo do sururu: Perna perna
Os sururus, como são geralmente conhecidos, são moluscos bivalves que vivem presos ao costão rochoso das praias, onde se alimentam filtrando a água que passa pela sua cavidade do manto. Isso os torna extremamente susceptíveis ao ambiente em que estão inseridos, uma vez que seu desenvolvimento vai variar de acordo com as características do meio.
Nesse cenário, os Perna perna, uma espécie de sururu, funcionam como possíveis indicadores de poluição dos ambientes marinhos. No entanto, ainda existe uma lacuna de informação sobre como os indivíduos de P. perna podem responder aos níveis de material orgânico e outros poluentes presentes na água (como descarte de esgoto). Nessa lógica, estudamos como os tecidos digestivos e gonadais respondem à diferentes ambientes, além de caracterizar seu ciclo reprodutivo ao longo de um ano.
Identificação molecular de espécies crípticas do gênero Stramonita em litoral brasileiro
Espécies crípticas são caracterizadas por serem extremamente ou até impossíveis de serem distinguidas uma da outra morfologicamente. Nesse cenário, um pesquisador inglês chamado Martine Claremont realizou um trabalho de caraterização molecular do gênero Stramonita, resolvendo muitas pendências taxonômicas e descreveu uma espécie exclusiva do litoral brasileiro extremamente parecida com uma espécie do leste do Atlântico, respectivamente S. brasiliensis e S. haemastoma.
Embora De Biasi (2014) tenha confirmado a presença de S. hemastoma no Brasil, não existe outro trabalho que verifique essa afirmativa para outras regiões do país, além de não sabermos se essas duas espécies vivem em simpatria.
Levantamento faunístico da orla da Praia de Camburi, Vitória - ES
A orla de Camburi, uma das prais mais conhecidas da cidade de Vitória, é um coringa quando falamos sobre diversidade, tanto de plantas (principalmente vegetação de mangue e restinga) quanto de animais. Grande parte da cidade de Vitória foi construída em cima de aterros do que eram manguezais e a praia de Camburi não foi diferente.
O último trabalho que realizou um levantamento da fauna malacológica na praia de Camburi foi em 2002, feito aqui no Laboratório de Malacologia. Agora, quase 20 anos depois, voltamos nos mesmos pontos de coleta para estabelecer um paralelo de mudanças nesse espaço de tempo e analisar se há alteração na taxa de atuação antrópica.
Outros trabalhos
Outras pesquisas que desenvolvemos ou já realizamos aqui
Monitoramento de índices de Imposex - FAPES/VALE
Como uma das principais linhas de pesquisa, tivemos o privilégio de sermos um dos laboratórios escolhidos para um projeto financiado pela FAPES (Fundação de Auxílio à Pesquisa do Espírito Santo). Nesse projeto, analisamos as taxas de imposex em duas espécies indicadoras, Stramonita haemastoma (hoje brasiliensis) e Leucozonia nassa. Coletas foram feitas em pontos que partiam desde o norte do estado, em Aracruz, passando pela capital e terminando em Guarapari. O objetivo era englobar áreas portuárias e próximas para serem comparadas com resultados de estudos passados e com pontos controle coletados na mesma época.
Microplástico: Prospecção em sedimento de mangue e estrutura digestiva de moluscos
A produção de plásticos na última década vem aumentando exponencialmente, resultando em liberação desse material para o meio ambiente. Quando inapropriadamente descartados os resíduos plásticos podem se acumular tanto em ambientes terrestres quanto marinhos. Uma vez liberados no ambiente, os plásticos podem estar sujeitos à degradação por diversos agentes ou rotas e isso leva à fragmentação desses materiais maiores em microplástico.
Nesse contexto, estamos observando a presença dessas partículas dentro de áreas de manguezal e também nos tecidos de moluscos aqui na baía de Vitória para melhor entender seus impactos e seu alcance em termos de acumulação biológica.